Meu
nome é Mariane Nogueira, 29 anos, tenho emprego e nessas olimpíadas
fui voluntária.
Uma palavra que nas ultimas semanas têm causado mais espanto do que imaginava. Sempre achei interessante a oportunidade de poder ajudar sem receber nada em troca, porém nunca tive oportunidade (devemos sempre ter consciência que cada um escolhe o que quer e o que lhe convêm). Me inscrevi para ser voluntária no Rio 2016 e também em outras seletivas que estavam pagando. Até cheguei a passar numa seleção, porém como eram 30 dias corridos desisti. Então fiquei com a opção de trabalhar de graça. Quando cheguei no Rio e falava que era voluntária, a primeira pergunta não era - "Que legal! Você está gostando?", mas sim uma frase em tom protestante e acusador "Você está louca? Eles só roubaram e ainda tu faz de graça? Vá ajudar um lar dos velhinhos". Ok. Eu poderia ajudar pessoas carentes, passar tardes com pessoas de idade. Mas como disse antes, o tempo é meu e faço o que eu bem entender dele. Se acredito que minha mão de obra será importante para algo, me jogo. Fora do Brasil trabalho voluntário é reconhecido e muitas vezes necessário. Agrega ao currículo. Aqui é motivo de chacota - "O cara é um otário em fazer de graça". Quero deixar bem claro que nunca fui muito a favor da Copa e Olimpíadas aqui no país. Nunca estivemos prontos para isso. Mas uma vez confirmado, nos resta abraçar a causa e tirar o melhor da situação. Sim. Roubaram, não planejaram e nos fizeram engolir meias verdades. Mas isso não nos impede de buscar uma solução. Porque não participar de algo grandioso? Completei entrevistas e treinamentos online. Descobri que pessoas de países que eu nem conhecia também iriam trabalhar comigo.
Uma palavra que nas ultimas semanas têm causado mais espanto do que imaginava. Sempre achei interessante a oportunidade de poder ajudar sem receber nada em troca, porém nunca tive oportunidade (devemos sempre ter consciência que cada um escolhe o que quer e o que lhe convêm). Me inscrevi para ser voluntária no Rio 2016 e também em outras seletivas que estavam pagando. Até cheguei a passar numa seleção, porém como eram 30 dias corridos desisti. Então fiquei com a opção de trabalhar de graça. Quando cheguei no Rio e falava que era voluntária, a primeira pergunta não era - "Que legal! Você está gostando?", mas sim uma frase em tom protestante e acusador "Você está louca? Eles só roubaram e ainda tu faz de graça? Vá ajudar um lar dos velhinhos". Ok. Eu poderia ajudar pessoas carentes, passar tardes com pessoas de idade. Mas como disse antes, o tempo é meu e faço o que eu bem entender dele. Se acredito que minha mão de obra será importante para algo, me jogo. Fora do Brasil trabalho voluntário é reconhecido e muitas vezes necessário. Agrega ao currículo. Aqui é motivo de chacota - "O cara é um otário em fazer de graça". Quero deixar bem claro que nunca fui muito a favor da Copa e Olimpíadas aqui no país. Nunca estivemos prontos para isso. Mas uma vez confirmado, nos resta abraçar a causa e tirar o melhor da situação. Sim. Roubaram, não planejaram e nos fizeram engolir meias verdades. Mas isso não nos impede de buscar uma solução. Porque não participar de algo grandioso? Completei entrevistas e treinamentos online. Descobri que pessoas de países que eu nem conhecia também iriam trabalhar comigo.
Cariocas, indiana, canadense e chinesa. |
Fui
escalada para trabalhar no Estádio Olímpico (Engenhão) na área de
imprensa (sou formada em Jornalismo). Fiquei no helpdesk, recebendo
comunicadores de todas as partes do mundo - algo que nem o melhor
estágio remunerado teria me proporcionado. Trabalhei, trabalhei
muito. Até mais do que eu esperava e estava acostumada. No final
perdi alguns quilos e acumulei bolhas nos pés. Faltei duas semanas
no meu emprego, sempre com apoio dos meus sócios e família. Tá.
Minha mãe confessou que estava com medo de algum ataque terrorista.
Não a julgo. Eu também estava com o pé atrás.
Ultimamente a maldade tem nos consumido. Mas todos os estádios
e pontos turísticos
foram muito bem policiados. Mais uma vez aqui os implicantes insistem
em falar como a cidade foi maquiada pra gringo ver. Conheço o Rio há
muito tempo e sei que aquela sensação de paz que senti nos jogos não
era real. Sei que foi tudo maquiado. Mas volto a insistir: porque não
aproveitar? O Rio assim como todo restante do país está cheio de
problemas. Está tudo errado. Mas pelo menos por algumas semanas tudo
funcionou. Foi incrível
ver que quando o governo resolve agir tudo funciona. É como aconteceu
com a abertura do jogos. Foi lindo. Foi amor. Foi muita competência.
O que me faz acreditar que dá pra manter uma esperança de que temos
um futuro melhor. (Gravo aqui um momento especial: na primeira corrida do Usain Bolt perdi a parte da frente da minha bolsa, com câmera, dinheiro e documento. O estádio estava lotado. Um cara encontrou, me ligou e me entregou tudinho). Sim, lá se foi a minha sorte da loteria...
Consegui
assistir (de graça) a vários esportes de grupo e individuais - eu
jamais
conseguiria pagar para vê-los.
Gritei, torci, sofri. Fiquei em vários locais graças aos sites
Airbnb e Couchsurfing. Fiz amizade com o pessoal que me recebeu,
pessoas sensacionais que me fazem acreditar na parceria. Trabalhei
com nacionalidades diferentes e distantes que agora mantenho na
lembrança e no facebook. Vi pessoas lindas. Belezas
naturais e espontâneas,
como suas almas viajantes e livres. Aprendi novas palavras e
expressões. (Momento especial dois: nessa semana vou receber em casa uma pessoa da China e da República Tcheca que trabalharam cmg).
Respondendo a segunda pergunta que mais me fizeram: sim, o uniforme ficou comigo. Até o relógio da Swatch e aquele tênis verde. Acho que era o mínimo né? E não digo isso por reclamar e achar que devo receber algo. Acho que é valido pela lembrança. A lembrança de que quando estava uniformizada, várias pessoas me pararam para tirar fotos comigo. A memória de caçar pins pra trocar com outros países (ainda me faltou o do Japão que tinha o Pikachu).
Um dos poucos dias que saiu sol ;) |
Nos
primeiros dias imaginava que conseguiria
fazer fotos incríveis
com os
atletas. Não foi bem assim. Na verdade eu quase não tive contato
com eles, e os que passaram por mim estavam sempre super acabados
pós jogo. Mas nem por isso deixei de gravar momentos incríveis com pessoas comuns que fizeram meu dia melhor. Apesar de o tempo não colaborar muito (choveu e até chegou a fazer frio no RJ), consegui dar uma escapada pra praia. Com direito a visita a loja oficial dos jogos e encontrar outro voluntários em Copacabana e Ipanema.
Se
valeu a pena? Faria tudo de novo. E é uma pena que poucas pessoas no
país tenham consciência
do quão importante cada um somos. Se tenho algo a reclamar? As
vaias. Até agora não consigo entender pq brasileiro vaia tanto. Não
era campeonato de futebol do seu bairro. Eram atletas que treinaram
por anos pra estar ali. Mereciam ser ovacionados positivamente. A
distancia também não
colaborou mto. O transporte foi mto bem orquestrado. Metro, trem,
ônibus,
bondinho. Funcionaram. Mas dar um role em mais de um estádio no
mesmo dia era quase impossível.
Termino meu relato com uma dorzinha de "Poxa, acabou de verdade. Agora só daqui a 4 anos". Trabalhar nas Olimpíadas do Rio me fez uma pessoa melhor. Meu respeito pelos atletas apenas cresceu. Espero que os Jogos Paralímpicos sejam tão emocionantes como a Olimpíadas.
3 comentários:
I love you SO mucho MaryJane, let me be ur PeterParker!!
Adorei seu testemunho sobre a experiência em doar seu tempo, atenção e dedicação. Quisera eu ter uma alma tão livre e corajosa como a sua. Beijo.
Obrigada pelo apoio ;)
Agora é esperar por novas oportunidades
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